sábado, 24 de janeiro de 2009

Entenda o Big Brother Brasil


Resumo do livro 1984 de George Orwell


No mais famoso romance de George Orwell, a história se passa no "futuro" ano de 1984 na Inglaterra, ou Pista de Pouso Número 1, parte integrante do megabloco da Oceania.É comum a confusão dos leitores com o continente homônimo real. O megabloco imaginado por Orwell tem este nome por ser uma congregração de países de todos os oceanos. A união da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), Reino Unido, Sul da África e Austrália não parece estar tão distante da realidade.E a transformação da realidade é o tema principal de 1984.


Disfarçada de democracia, a Oceania vive um totalitarismo desde que o IngSoc (o Partido) chegou ao poder sob a batuta do onipresente Grande Irmão (Big Brother). Narrado em terceira pessoa, o livro conta a história de Winston Smith, membro do partido externo, funcionário do Ministério da Verdade. A função de Winston é reescrever e alterar dados de acordo com o interesse do Partido. Nada muito diferente de um jornalista ou um historiador. Winston questiona a opressão que o Partido exercia nos cidadãos. Se alguém pensasse diferente, cometia crimidéia (crime de idéia em novilíngua) e fatalmente seria capturado pela Polícia do Pensamento e era vaporizado. Desaparecia.

Inspirado na opressão dos regimes totalitários das décadas de 30 e 40, o livro não se resume apenas em criticar o stalinismo e o nazismo, mas toda a nivelação da sociedade, a redução do indivíduo em peça para servir ao estado ou ao mercado através do controle total, incluindo o pensamento e a redução do idioma. Winstom Smith representa o cidadão-comum vigiado pelas teletelas e pelas diretrizes do Partido. Orwell escolhera este nome na soma da 'homenagem' ao primeiro-ministro Winston Churchill com o uso do sobrenome mais comum na Inglaterra.

A obra-prima foi escrita no ano de 1948 e seu titúlo invertido para 1984 por pressão dos editores. A intenção de Orwell era descrever um futuro baseado nos absurdos do presente.Winston Smith e todos os cidadãos sabiam que qualquer atitude suspeita poderia significar seu fim. E não apenas sair de um programa de tv com o bolso cheio de dinheiro, mas desaparecer de fato. Os vizinhos e os próprios filhos eram incentivados a denunciar à Polícia do Pensamento quem cometesse crimidéia. Fato comum nos regimes totalitários. Algo estava errado, Winston não sabia como, mas sentia e precisava extravassar. Com quem seria seguro comentar sobre suas angústias? Não tendo respostas satisfatórias, Winston compra clandestinamente um bloco e um lápis (artigos de venda proibida adquiridos num antiquário).

Para verbalizar seus sentimentos, Winston atualiza seu diário usando o canto "cego" do apartamento. Desta forma ele não recebia comentários nem era focalizado pela teletela de seu apartamento. Um membro do Partido (mesmo que externo como Winston) tinha de ter um teletela em casa, nem que fosse antiga. A primeira frase que Winston escreve é justificavel e atual: Abaixo o Big Brother! A vida de repressão e medo nem sempre fora assim na Oceania. Antes da Terceira Guerra e do Partido chegar ao poder, Winston desfrutava uma vida normal com os seus pais. Mesmo Winston tinha dificuldades para lembrar das recordações do passado e da vida pré-revolucionária.

Os esforços da propaganda do Partido com números e duplipensamento tornavam a tarefa quase impossível já que o futuro, presente e passado eram controlados pelo Partido. O próprio ofício de Winston era transformar a realidade. No Miniver (Ministério da Verdade), ele alterava dados e jogava os originais no incinerador (Buraco da Memória) de tudo que pudesse contradizer as verdades do Partido. A função de Winston é uma crítica à fabricação da verdade pela mídia e da ascenção e queda de ídolos de acordo com alguns interesses.

O Partido informa: a ração de chocolate semanal aumenta para 20g para cada cidadão. O trabalho de Winston consistia em coletar todos os dados antigos em que descreviam que a ração antiga era de 30g e substitui-los pela versão oficial. A população agradece ao Grande Irmão pelo aumento devido aos propósitos midiáticos do poder. Winston entendia que adulterava a verdade, por muito tempo ele encobria a verdade para si, mas, aos poucos, ele começava a questionar calado e solitariamente. O medo de comentar algo era um dos trunfos do Partido para o controle total da população. Winston tinha esperança na prole. Na sua ingênua visão, que confunde-se com a biografia de Orwell em sua visão durante a guerra civil espanhola, a prole é a única que pode mudar o status quo. Winston lembra dos "Dois minutos de ódio", parte do dia em que todos os membros do partido se reunem para ver propaganda enaltecendo as conquistas do Grande Irmão e, principalmente, direcionar o ódio contido contra os inimigos (toteísmo usado amplamente pelo ser humano: odeie o seu inimigo e se identifique com o seu semalhante). Durante este ato, Winston repara num membro do Partido Interno, seu nome é O'Brien.

Winston separou-se devido à devoção de sua esposa ao Partido. Ela seguia as determinação que o sexo deveria ser apenas para procriação de novos cidadãos. O sexo como prazer era crime. Ao ver uma bela mulher, lembrou-se da última vez que fizera sexo. Havia três anos e com uma prostituta repugnante. Boicotar o sexo, como pretendem os atuais donos-do-mundo é uma das forças-motrizes para dominar a mente. Winston anotava tudo o que se passava pela sua cabeça. Um exercício proibido mas necessário. Anotar e lembrar pode ser muito perigoso.

O caso mais escandaloso que revoltava Winston era o de Jones, Aaronson and Rutherford, os últimos três sobreviventes da Revolução. Presos em 1965, confessaram assasinatos e sabotagens em seus julgamentos. Foram perdoados, mas logo após foram presos e executados. Após um breve periodo Winston os viu no Café Castanheira (Local mal-visto pelos cidadãos que não queriam cometer crimidéia). No ano do julgamento Winston refez uma matéria sobre os três 'traidores'. Recebeu através do tubo de transporte que eles estavam na Lestásia naqueles dias, mas ele sabia que eles confessaram estar na Eurásia (naquela época a Eurásia era a inimiga, mas num piscar de olhos, a Lestásia deixava de ser a aliada e passava a ser a inimiga). Esta é uma crítica às alianças políticas, principalmente ao pacto de Hitler e Stalin.

Os nazistas chegaram ao poder financiados também por setores dos EUA para combater o avanço do comunismo. Durante a vigoração do pacto, a aliança entre Moscou e Berlim sempre existiu para a população dos dois países. Eles não eram amigos, eles sempre foram amigos! No ano seguinte, rumo ao 'espaço vital alemão', os russos sempre foram os inimigos. Sempre tinham sido. Bastante atual se compararmos o apoio logístico e bélico dado aos estaduinedenses a Saddam Hussein e Osama bin Laden para combater o comunismo. Agora, eles são os inimigos eternos. A mentira do Partido era a prova que Winston procurava para si. Havia algo podre na Oceania. Winston, que era curioso, mas não era burro, joga o papel que podia incriminá-lo no buraco da memória. Revoltado, escreve no seu diário que liberdade é poder escrever que dois mais dois são quatro.

As fábricas russas ainda contém placas com o lema: dois mais dois são cinco se o partido quiser. Não era bem-visto que membros do Partido freqüentassem o bairro proletário. Winston estivera havia poucos dias no mesmo local para comprar seu diário. Depois de um costumaz bombardeio, Winston entrevista pessoas sobre como era a vida antes da guerra, mas os idosos não lembram mais, apenas futilidades e coisas pessoais. Ao voltar ao antiquário o propietário tem uma surpresa para o curioso por antiquidades. Winston esperava ver algum objeto anterior ao Partido, mas o que o sr. Carrrington lhe mostra é um quarto com arrumação e mobílias antigas. Sem teletelas. Winston, ao sair do antiquário, vê uma mulher e desconfia que ela seja uma espiã da Polícia do Pensamento.

No dia seguinte, a encontra no Ministério da Verdade, o que aumenta o seu temor em ser denunciado. Ao passar por Winston, ela simula uma dor para desviar a atenção das teletelas, e lhe passar um bilhete escrito: "Eu te amo". As normas do Partido deixavam claro que membros do Partido, principalmente dos sexos opostos, não deveriam se comunicar, a não ser a respeito de trabalho. Passaram-se semanas em conversas fragmentadas até conseguirem marcar um encontro num lugar secreto longe dos microfones escondidos. Winston só descobre seu nome após beijá-la. Júlia confessa que ficou atraída por Winston pelo seu rosto que parecia ir contra o partido. Estava na cara que Winston era perigoso à ordem e ao progresso. Winston se surpreende ao saber que Júlia se 'apaixonava' com facilidade. O desejo dela era corromper o estado por dentro, literalmente. Para continuar seu romance com Júlia, Winston têm a idéia de alugar aquele quarto do antiquário. Winston ficou impressionado e passou a acreditar que Júlia seria uma ótima companheira de guerra. Por enquanto, era a pessoa que Winston podia compartilhar seus sentimentos e secreções. Apaixonado, ele recupera peso e saúde.

Enquanto isso, o partido organizava a "A Semana do Ódio " (paródia dos mega-eventos políticos, principalmente as Reuniões de Nuremberg promovidas pelo partido Nazista e das paradas militares comunistas) e algumas pessoas desapareciam. Syme, filologista que dedicava-se a finalizar a décima-primeira edição do Dicionário de Novilíngua, tornou-se impessoa. Seu nome não estava mais nos quadros. Nunca esteve.

Certo dia, O'Brien, um membro do Partido Interno, percebe também que Winston era diferente dos outros. O'Brien o convida, para despistar as teletelas, a ir ao seu apartamento ver a nova edição do dicionário de novilíngua. O convite de O'Brien era incomum e fez Winston se animar com a possibilidade de uma insurreição. Ele passa a crer que a Fraternidade não era apenas peça de propaganda, a organização anti-Grande Irmão responsável por todos os danos causados na Oceania tal qual Bola-de-Neve em a "Revolucão dos Bichos". Winston leva Júlia ao encontro. Para espanto do casal, O'Brien desliga a teletela de seu luxuoso apartamento. Alguns integrantes do partido Interno tinham permissão para se desconectar de suas 'bandas-largas' por alguns instantes. Winston confessa seu desejo de conspirar contra o Partido, pois acreditava na existência da Fraternidade e para tal suas esperanças estavam depositadas em O'Brien.

Os planos eram regados a vinho digno, artigo inviável para os integrantes do Partido Externo, e o brinde destinado ao líder da Fraternidade, Emanuel Goldstein. Dias depois, Winston recebe a obra política de Goldstein em seu cubículo. Winston "devora" o livro enquanto Júlia não demonstra o mesmo interesse. Winston ainda acredita nas proles mesmo ao ver uma mulher cantando uma música pré-fabricada em máquinas de fazer versos. Nada muito distante da música atual. "Nós somos os mortos" filosofa Winston ao contemplar a vida simples da prole.

A ignorância dos menos abastados não era perigo para o Partido e, portanto, não sofria tanta repressão quanto os membros, superiores e inferiores do Partido, a classe-média. "Nós somos os mortos" repete uma voz metálica. Sim, era uma teletela escondida atrás de um quadro. Guardas irrompem o quarto e Winston vai para uma cela, provavelmente, no Ministério do Amor. Até as celas tinham teletelas que vigiavam cada passo de um Winston doente e faminto. Os prisioneiros têm a fisionomia dos do campo de concentração. Ao encontrar O'Brien, Winston que pensara que ele também fora capturado, escuta a frase mais enigmática do livro: "Eles me pegaram há muito tempo". Winston vai para uma sala e O'Brien torna-se o seu torturador. O'Brien explica o conceito do duplipensar, o funcionamento do Partido e questiona Winston das frases de seu diário sobre liberdade. O'Brien não esquece o que o Winston escreveu. A liberdade é o tema para que O'Brien explique durante a tortura o controle da realidade. Se fosse necessário deveriam haver quantos dedos em sua mão estendida o partido quisesse. A verdade pertence ao Partido já que este controla a memória das pessoas.

Winston torturado e drogado começa a aceitar o mundo de O'Brien e, passa ao estágio seguinte de adaptação que consiste em: aprender, entender e aceitar. Winston sabia que já estava se adaptando e confessando que a Eurásia era inimiga e que nunca tinha visto a foto dos revolucionários. Mas ainda faltava a reintegração e este ritual de passagem só poderia ser concluído no Quarto 101. Segundo O'Brien, o pior lugar do mundo. O Quarto 101 é um inferno personalizado.

Como Winston tem pavor de roedores, os torturadores colocaram uma máscara em seu rosto com uma abertura para uma gaiola cheia de ratos famintos separada apenas por uma portinhola. A única forma de escapar era renegar o perigo maior ao Partido, o amor a outra pessoa acima do Grande Irmão. "Pare. Faça isso com a Júlia." Grita Winston. Winston, libertado, termina seus dias tomando Gim Vitória e jogando sozinho xadrez no Castanheira Café. Ao fundo, seu rosto aparece na teletela confessando vários crimes. Ele foi solto e teve sua posição rebaixada para um trabalho ordinário num sub-comitê. Trajetória de milhares de pessoas de regimes totalitários, como o tcheco Thomaz de "A Insustentável Leveza do Ser" de Milan Kundera, o caso do médico que vira pintor de paredes ao renegar as ordens do partido não é muito diferente daqueles que não se adaptam em suas profissões no mundo livre S/A.Júlia escapa também do Quarto 101.

O Partido os separou e os dois só voltaram a se encotrar ocasionalmente. Já não eram mais as mesmas pessoas. Tinham "crescido" e se traído. Wisnton, no Café Castanheira, sorri. Está completamente adaptado ao mundo. Finalmente ele ama o Grande Irmão.

Com informações de http://www.duplipensar.net
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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Por que ter um Blog?


As vezes ninguém lê, visita ou comenta os textos postatos. Na verdade não me preocupo com isso, mas ter um Blog vai além disso, é um processo de catarse, ou seja, colocar para fora os pensamentos, idéias, a vontade de escreverPode acontecer que um dia esteja mais inspirado que outros para escrever. Agora, por exemplo, não pensava em escrever esse texto, mas ao entrar em meu Blog e visitar os Blogs de meus amigos, pude perceber que há poucos comentários também. Daí pensei: Para que serve um Blog? Ah! Sim. Já disse... para expor nossas idéias e pensamentos.
Certa vez recebi um e-mail de uma pessoa que estava no exterior, mas reside em Niterói, RJ. Eu não a conheço ainda, apesar de conversarmos por e-mail e saber que ela é cristã, essa irmã Maria (nome fictício) tinha acabado de votar na enquete: “Você é a favor do Ecumenismo?” Ela votou favorável. A partir daí começamos a nos corresponder via e-mail. Ela sempre pediu orações pela sua comunidade, filhos, família e pela unidade dos cristãos. Isso é legal! Olha que sempre orei por ela e suas causas.
O Blog nada mais é que um espaço para publicção de textos, fotos, pensamentos, reflexões...se ninguém ler, pelo menos estão ali, guardados e, quem sabe se algum texto for comentado, posso saber o que as pessoas pensam sobre aquilo que penso.
SHALOM!
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quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Reforma já!

Nunca é tarde para falar de Reforma
O texto a seguir apresenta resumidamente idéias centrais e atitudes de três personagens que sinalizam a emergência de temas que se tornariam centrais no movimento da Reforma. São eles: John Wiclif, John Hus e Hans Böhm. Os dois primeiros geralmente são considerados pela pesquisa como antecedentes intelectuais dos grandes reformadores do século XVI, como Lutero, Zwinglio, Calvino e outros. São provenientes do meio universitário e teólogos de projeção. Hans Böhm tem outra procedência. É pastor de ovelhas, portanto, procede do meio popular. Não conhecemos nenhuma palavra por ele escrita. Seu meio de expressão é a cultura oral e os gestos simbólicos. O acesso as suas idéias depende de relatórios de autoridades da época, isto é, das autoridades policiais que viam nele um herege. Situa-se na tradição dos movimentos de autoflagelo. Seu discurso é indicativo da situação em que vivia o povo na época, indica também para o imaginário religioso popular neste contexto.

a) John Wiclif (João Wycliff)
Nasceu em 1328, numa família da nobreza inglesa. Foi professor de filosofia e teologia na Universidade de Oxford. Num primeiro período atacou o papado com argumentos nacionalistas, condenando principalmente os privilégios da igreja. Defendia a independência do poder civil em relação ao Papa e a nacionalização das propriedades da igreja. Com isto atraiu a simpatia da nobreza inglesa. Processado pelo bispo de Londres teve as sessões do processo interrompido por duas vezes (1377/78) por nobres armados. Depois disto desenvolveu um programa de reforma da igreja, a partir de argumentos fundamentalmente teológicos:
- A Bíblia é o único fundamento da fé;
- Decretos papais e conciliares são obra humana e só têm valor se forem fundamentados na Bíblia;
- A igreja é a comunhão dos predestinados por Deus e Cristo é sua cabeça.
- O primado de Pedro não está fundamentado nas escrituras, por isto o papado é uma usurpação e o papa é o anticristo.
- A hierarquia eclesiástica é contrária à lei de Deus, que só conhece presbíteros e diáconos.
- A ordenação, a extrema unção e vários ritos eclesiásticos não tem fundamento bíblico. O mesmo acontece com as ordens religiosas.
- Condenou a crença nos santos, as relíquias, a confissão auricular, a adoração a imagens, as indulgências, a doutrina do tesouro celestial, etc
- Tradução da vulgata para o inglês
- Instituiu pregadores itinerantes, inspirado em Mt 10 – lolardos
- Em 1381 foi responsabilizado (injustamente, segundo Heussi) pela revolta camponesa que sacudiu a Inglaterra. Com isto perdeu o apoio da Nobreza
- Em relação ao sacramento da Santa Ceia, condenou a crença na transubstanciação. Foi um dos motivos pela perda de sua popularidade.
- Em 1382 foi banido da universidade de Oxford, mas continuou como padre na paróquia de Lutterword
- Faleceu em 1384.
- Foi condenado pelo Concílio de Constança, 1414-18, seus restos mortais foram exumados, queimados e as cinzas lançadas ao Rio Swift.

b) João Huss (John Hus)
Nasceu em 1369 (?), no sul da Boemia, como filho de uma família pobre. Tornou-se professor na Universidade de Praga, por volta de 1400. Depende teologicamente de Wiclif (Este aspecto é questionado por J. Gonzáles, que defende ser o movimento reformador da Boemia o mais forte referencial de sua teologia).
Entrou em conflito com os professores alemães da universidade de Prega. Os Alemães se retiraram e fundaram a universidade de Leipzig, na Aalemanha.
Processado pelo arcebispo de Praga recebeu a proteção do rei Sugismundo (Igreja era proprietária de metade do território da Boemia). Mais tarde o rei retirou sua proteção para não prejudicar o Concílio de Constança. João Hus converteu-se numa espécie de moeda de troca entre o rei Sugismundo e os grupos fiéis ao Vaticano, num contexto de crise institucional da igreja. Teoricamente dar-se-ia maior poder aos cardeais e ao Concílio (conciliarismo), na prática o Vaticano negociava separadamente acordos com os poderes políticos e religiosos regionais. É neste contexto que o rei Sugismundo retirou a proteção a seu súdito e João Hus foi condenado e queimado no dia 06 de julho de 1415.

Conseqüências:
A morte de Hus não significou o fim de sua causa. Seus seguidores dividiram-se em dois grupos:
- Hussitas: moderados, setores sociais médios e altos. Idéia básica: tudo o que contradiz a bíblia deve ser rejeitado. Mantiveram os ritos, vestes litúgicas, etc como na igreja tradicional.
- Taboritas: radicais, setores populares. Idéia básica: tudo o que não está fundamentado na Bíblia deve ser rejeitado.

A proposta dos seguidores de Hus pode ser resumida em quatro reivindicações:
1. Pregar a palavra de Deus livremente em toda a Boemia
2. Devolução do cálice aos leigos – duas espécies
3. Clero deve viver em pobreza
4. Combate à Simonia (At 8.18-24: compra da ordenação sacerdotal; concessão de autoridade eclesiástica a leigos mediante pagamentos, etc; ordenação de clérigos por parte de leigos) e dos grandes pecados públicos.

Resultados
- Os artigos dos hussitas não foram aceitos pela hierarquia da igreja
- O papa e o rei Sugismundo organizaram três cruzadas contra os Boêmios, todas derrotadas
- A região da Boemia se transformou em um campo de guerra entre os anos de 1420 a 1485
- Após 1485 a igreja hussita retornou a comunhão com a igreja católica, sob a condição de comungar sob as duas espécies.
- Os dissidentes formaram a Unitas Fratrum – unidade dos irmãos a partir de 1467: principais características: vida em comunidades, simplicidade, não participação no poder civil, recusa a todo juramento, contra o serviço militar, simplicidade nas formas de culto. As Unitas Fratrum se expandiram rapidamente e foram perseguidos seguidamente. São uma das bases populares do pietismo do século 18, em Herrnhut, 1721.
- Representante mais ilustre: João Amós Comênio, bispo dos Hussitas, considerado o pai da moderna pedagoria. Obra principal: Pedagogia magna.


c) Hans Böhm
Testemunho sobre a pregação do pastor de ovelhas e músico de Niklashausen, Hans (João) Böhm
[1]

Os discursos de Hans Böhm foram pronunciados no início de 1476, na região do Taubertal (Sul da Alemanha), na localidade de Niklashausen. Segundo relatos da época, atraiam “dezenas de milhares” de operários em manufaturas e trabalhadores rurais. Nas peregrinações ao Taubertal, a maioria dos peregrinos não tinha com que se sustentar pelo caminho, mas eles recebiam apoio por onde passavam. A saudação entre eles não era outra a não ser de irmão e irmã. Em suas pregações, Böhm polemizava contra a usura, os juros praticados pelo clero, a corrupção do direito praticado pelos príncipes, a perda do acesso a terras públicas (Allmenderecht), contra o dízimo, os impostos, as indulgências etc. No dia 19 de julho de 1476, Hans Böhm foi queimado por ordem do príncipe e bispo de Würzburg. Segue a tradução de parte de um relatório sobre seus discursos, anotado em 1476:

“Em primeiro lugar ele se atreve a pregar sem trégua ao povo, dizendo o que segue:
Como a Virgem Maria, Mãe de Deus, lhe teria aparecido e lhe revelado a ira de Deus contra a humanidade e principalmente contra o clero. Por isto Deus teria querido dizimar o vinho e os cereais através do frio, na Sexta-Feira da Paixão (Kreuztag), mas ele o teria impedido através da oração.
Que em Taubertal haveria graça perfeita e ainda maior que em Roma ou em qualquer outro lugar.
Que todo aquele que viesse a Taubertal alcançaria a graça perfeita e quando morresse iria direto para o céu.
Também aquele que não conseguisse entrar na igreja, por ser ela pequena, alcançaria a graça.
Para tal empenharia sua honra. E mesmo que uma alma se encontrasse no inferno, pela mão a conduziria para fora.
Como o imperador seria um malvado e o papa uma nulidade.
O imperador autorizaria os príncipes, condes, cavaleiros e empregados, religiosos e seculares, a cobrar, do povo simples impostos e taxas alfandegárias. Ai de vós, seus imbecis.
O clero detém muitas prebendas, isto não deve ser assim. Não deveriam ter mais que o necessário de um dia para o outro. Eles serão abatidos. E o tempo está próximo em que o padre vai querer tapar sua careca com a mão para não ser reconhecido.
Como o peixe na água e a caça no campo deveriam pertencer ao bem comum.
Que os príncipes, seculares e religiosos, também condes e cavaleiros têm muitas posses. Se elas pertencessem às pessoas comuns, assim logo teríamos todos o suficiente. E assim realmente deverá acontecer.
Também ocorrerá que príncipes e senhores trabalharão como diaristas.
Ao papa atribui pouca importância, assim como ao imperador. Se o papa for uma pessoa correta e for encontrado em retidão no fim de sua vida, o mesmo se aplica ao imperador, então irão diretamente ao céu; caso sejam encontrados em maldade, irão diretamente para o inferno. Portanto, desconsidera o purgatório.
Antes intenciona melhorar os judeus que o clero e os eruditos ...
Os padres dizem ser eu um herege e querem me queimar. Se soubessem o que é um herege, saberiam que hereges são eles e não eu. Caso me queimarem, ai deles! Certamente perceberão o que fizeram, e pagarão pelo estrago que fizeram!
Em Holzkirchen alguém do povo se ajoelhou em sua frente. Ele o absolveu e então o enviou ao padre em Niklashuasen. A mãe de Deus estaria querendo ser venerada mais em Niklaushausen que em qualquer outro lugar.
Diz que a excomunhão nada significa e que os padres autorizam o divórcio, o que ninguém pode fazer senão Deus.
[1] Traduzido do alemão conf. edição de MOKROSCH, Reinold; WALZ, Herbert. Kirchen-und Theologiegeschichte in Quellen. Vol. 2: Mittelalter. Neukirchen-Vluyn, 1980, p. 232-233.
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